terça-feira, 8 de outubro de 2013

Tédios e terça-feira

Tenho torcido por nós todos os dias, acordo e olho pra você ao meu lado pensando em como não encontrei uma solução pra nós naqueles meses. Como pude não ter mais forças pra nos levantar, pois realmente desisti, foi uma fraqueza cruel contra mim mesma, contra nós. Eu deixei de alimentar o que tínhamos e deu no que eu costumo chamar de “O tempo separados”. A frase é de um livro, mas ao contrário de Pat Peoples, a minha Nick voltou pros meus braços encerrando o tempo separados e Kenny G nunca foi um problema, eu ouço as mesas canções e tenho as mesmas vontades de antes, só que recuperei a vontade de fazer valer a pena, por mim e por você. Eu sofri demais sem poder te abraçar, tocar o seu pescoço com a ponta dos meus dedos sempre gelados, ou me agarrar nos seus ombros colocando a ponta dos meus pés, sempre gelados, em cima dos seus, andando pela casa, tomando banho, catando na praça, nas ruas, na sorveteria, rindo por aí da cara de tolo dos nossos amigos ou julgando a vida deles sem precedentes. Eu realmente não sei viver sem você, eu tenho plano pra nós sim, só que, da mesma maneira como você tem medo, eu também tenho. E se eu sonhar com um apartamento decorado com as coisas que mais amamos, com uma parede só de fotos nossas, de fotos da nossa vida juntos, de uma geladeira cheia de recados de amor, de café da manhã em horários contrários, louça pra lavar, roupa jogada pelos cantos, amigos nos visitando, sofá cama, pizza congelada, Nescau gelado, tédio de terça-feiras. Se eu sonhar posso sentir o quanto há entre nós, muito mais do que um dia por semana.

domingo, 11 de agosto de 2013

Ciranda de fuga

Não tinha nada pra te dizer aquele dia, era só uma necessidade de presença. Algo como saciedade e desprendimento. Não tinha razão pra sair do meu quarto e correr pro seu, nem de pensar em tudo que se passou. É que, as palavras que tu me diz ficam rodando meus pensamentos por dias. Não é como os outros que me dizem exatamente o que quero ouvir, os clichês, as mimosidades ladeando palavras e cinco segundos depois, já nem lembro. Tão carregado de poder e tamanha é a reflexão das tuas impressões que hoje mesmo quando nem lembrava que existia, me dei conta que estava pensando exatamente naquilo que me propôs semana passada. É um ciclo vicioso. Me dá ideias todas as vezes, me faz pensar na maneira como conduzo as coisas, o que vivo, o que penso, some por alguns dias e me deixa esses pensamentos de presente...
Não que eu não goste de pensar em tudo que me diz, é que me confunde ou me desconstrói, ainda não defini bem. Não que eu me faça de perdida e pense em ti e nas tuas loucuras todo o tempo, é que é só um tempo, e já passou.
Todas as vezes, depois de poucos encontros, eu passo por alguns estágios, pois também gosto de testar meu autocontrole sobre o que sinto ou absorvo. Nos primeiros instantes tem tu. Parado como um homem bastante superior, que me atrai, me deixa encabulada, é envolvente e dominador. Depois de voar longe pensando em ti, cerca de 15 minutos depois, reviro os olhos de dor e náusea. Flutuo até o banco do ônibus e tento escolher alguma música que te tire de mim. Repito os versos, tento um metal mais pesado, e então passa. Nesse instante já se passaram muitos quilômetros e eu já penso que é mais fácil deixar pra lá, e deixar lá com todas as outras coisas que passaram, pois sei até onde meus pés alcançam, verdadeiramente.
Depois de desencarnar pensando em tudo que vivi em umas horas, busco viver na normalidade, sou sempre eu, acordo no mesmo horário, visto as mesmas roupas e sinto o mesmo cheiro de sono ao adormecer, tudo diferente do que faço quando existe você. Quando nos falamos? Bem, quando nos falamos tem muito receio e muito pesar, tem quase uma morbidade, mas prefiro que seja sempre natural, e me divirto bastante com suas reações, seu modo de dizer que "tem coisas que não podemos evitar, ou que deveria ser menos retraída", mas é que sei até onde meus pés podem alcançar e, não é por desejar menos, sentir menos, e sim, por arder por dentro de tanta vontade que, às vezes, preciso me beliscar por dentro. E, não! Não é por te querer menos, e por ser demais pra mim.

sábado, 3 de agosto de 2013

"Tenho a sensação de que não estamos mais no Kansas".

"Tenho a sensação de que não estamos mais no Kansas". Dorothy Gale estava misteriosamente certa. É assim toda vez que me levanto com a cara amassada, o sono carregando os olhos ainda sensíveis à luz. Parece que não estou mais naquela vida, tão recente de ontem. Quando fechei os olhos, ainda à noite, parecia tudo recente. Eu ainda podia sentir a nevoa do chá antes de dormir, passeando entre o olfato e minhas bochechas, a cama fria, cobertores pouco aquecidos e o vento beijando as janelas.
É divertido como a frase "acordando pra vida" faz tanto sentido nos últimos tempos. Sensação de que a vida passou mesmo, virou de lado, plantou bananeira e voltou toda nova, floreada de coisas boas e carregada das ruins-superáveis. Hoje vou dormir com aquele gostinho do dia e esperando o novo sabor de amanhã, a nova-velha-vida desinteressante, mal posso esperar pelas mesmas paisagens de amanhã, as mesmas pessoas que se cruzam pelas ruas, o mesmo Sol e os lugares, todos iguais, com possibilidade de ser realmente novos conforme o olhar.




Baday


Quando me dizem que existe um tempo pra tudo, fico pensando a que horas o meu tempo vai chegar. Existe o tempo de viver, aprender e se ferrar. A última opção me cai bem no momento. Vou aproveitar bem esse tempo ruim pra poder andar pelo caminho bom, quando o tempo de viver chegar.

É planeta terra de quê?

Não me peça pra prestar a atenção no seu novo penteado ou em como mudou a maneira de olhar as pessoas, não tenho mais tato pro comum. Acabei de voltar de outra vida e lá, só as cores realmente importam, não existem botões ou pregas, as amarras são proibidas, tem felicidade nos olhares e pouco tempo para os mimos diários. As pessoas respiram o ar, tocam a natureza, falam com os animais, gostam de Sol e se amam. O mundo é realmente interessante, tem todas essas nuances, mas poucos podem ver. É como um elo perdido que se revela em cada olhar e de um jeito diferente.

Um beiço infinito

A vida tem essa urgência, nos tira do conforto, prega aquelas peças irremediáveis e torna tudo mais difícil. O sabor e as delícias quase sempre ficam pra trás, mas a verdade é que TANTO FAZ.
Quando voltava para o trabalho, depois de engolir metade de um almoço quase gelado, pude sentir o descontentamento alheio bem diferente do habitual. Tinha esse bicicleteiro que pedalava apressado até o trabalho em sua barra circular, enquanto eu tentava, mais que depressa, atravessar a avenida cheia, percebi que ele tonteou e desviou o caminho. O bicicleteiro, calculo eu, pedreiro - as manchas de tinta não mentiam -, rondava uma dessas revendedoras de automóveis, olhos fixos em uma CG 125. Depois de curvar o beiço em oito, sim, um oito infinito, disse, de maneira inaudível: MUITO CARO! Não saiu som, mas a mímica perfeita foi clara. Rapidamente esqueceu o desejo e voltou ao trajeto. Tinha nada no olhar, algo como um tanto faz. Naquele momento me senti exatamente igual a ele, com um TANTO FAZ carimbado no braço. Também não tinha nada no olhar, caminhava ao mesmo destino, mas é que o mundo é só esse e ter pouco mais de 20 anos nos deixa meio tolos, com preguiça de viver. Como se estivéssemos esperando que o céu caia e o chão suba. Tanto faz!


Fodido e compacto

Ontem adormeci com aquela sensação estranha de que algo ruim aconteceria. Angústia, aperto no peito, mal-estar. Acordei e vi que estava tudo explicado, o mundo ainda não tinha acabado.



É que se não fosse por hoje, eu não faria mais questão de nada. Vejo gente morta todo o tempo, mas não dessas que habitam os campos santos. Falo destas que já morreram antes mesmo de morrer. Estão em tantos estereótipos que me enojam, não tem identidade, não sabem para onde vão, sem rumo, sem cor. É um conjunto de merdas circulando ao nosso redor que, às vezes, fico apavorada pensando que esse "estilo de vida" pode ser contagioso. Tudo é pra ontem, para muitos desses, que pensam na vida como uma vitrine fodida, ladeada de status e estrelismo compacto e instantâneo, não existe vida. Existem muitos sorrisos, mas por trás deles nenhuma alegria pra compartilhar, é só um amontoado de dentes. O sentimento mesmo ainda está por vir ou nunca chegará àquele sorriso pronto, pré-cozido nas fotos. Os prazeres e os efeitos são tão insignificantes, que passam sem mais. Não acrescentam! É simples, por isso, ontem, adormeci com uma sensação ruim, o mundo continua aqui e evoluindo da pior maneira.